segunda-feira, 30 de novembro de 2009

População Carcerária, ou Escravidão Pós-abolicionista

Cnidosculus Philacanthus, popularmente conhecida pelo nome de favela, é uma planta originária do sertão brasileiro, mais comumente encontrada na Bahia, numa região em que pessoas fugindo da fábrica da sede e da fome, no fim do regime escravista, resolvem dar um basta, pra fundar uma outra organização baseada na fartura, na liberdade e no respeito, lá se uniram flagelados da seca, cangaceiros, jagunços, escravos fugidos, alforriados, prostitutas, mascates, agricultores, beatas,parteiras, o negócio deu certo! Indo de vento em polpa, o arraial de Canudos prosperava.

Porém a monocultura, a igreja, a cultura do capital, viu nascer ali uma nova concorrência, tratando logo de enviar uma expedição genocida contra o arraial, uma só não bastou, o exército fugiu com o rabinho entre as pernas, na segunda novamente, e na terceira... Foi a glória da história oficial.

Para lavar a sangueira, muita água!! Alagaram a cidade mudaram a geografia, o combate virou matéria de livro didático: Um mau exemplo para as novas gerações. Os soldados que acamparam no morro da Favela na Bahia, voltaram vitoriosos ao Rio de Janeiro, (a então capital federal do Brasil) desempregados, fudidos e sem soldo, foram morar no morro, que batizaram como Morro da Favela.

Pura Ironia da História, a primeira favela foi habitada por soldados que à serviço do Capital, fizeram um mar de sangue na Bahia. Mas parece que esta nova Favela trouxe uma semente ant-capitalista, com as mesmas vontades do arraial de Canudos, ou melhor; as vontades de Canudos ampliadas à quinta potência. As crianças ouvem Rap, música pesada para a burguesia, mas pra quem vive aquele cotidiano desgraçado, é só catarse, é a Cientifização do Ódio de classe, é, um Rap que cita Steve Biko, dizendo que “a mente do oprimido é a arma do opressor”, não é inconseqüente, Um Rap que cita Glauber Rocha dizendo: “A mais nobre expressão cultural da fome é a violência!” , Um Rap que cita Marx:” dizendo que o pensamento dominante é o pensamento da classe dominante”, dizendo tudo isso sem afetação intelectual, numa boa, á queima roupa, me faz lembrar Frantz Fanom(vale a pena ler) e seus textos explosivos, para as guerrilhas de libertação africana.

Tudo porque a cultura do capital só quer saber do consumo, consumo que já mamou 20% a mais do que a terra-escrava poderia oferecer, sob o ditame de quem não consome (ou não produz) deve morrer, pra servir de exemplo aos rebeldes ou preguiçosos - pelourinho eletrônico, plim-plim - criminalização da miséria, é o lema da Santa Aquisição.

Afinal a prole nasceu pra isso, não é? Dandá, dandá. Dandá pra ganhar vintém...


Leandro Valquer